
O coração conhece apenas uma linguagem universal: a sensibilidade em compreender o que ele fala.
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domingo, 15 de setembro de 2013
Nós temos o direito de sonhar e o meu sonho é o de ter o poder de ser o videocassete de mim mesmo. Ter um controle remoto que me permitisse adiantar ou atrasar a vida. Eu poderia adiantar e entrar na percepção do futuro ou poderia recuar e parar no momento que me tivesse sido maravilhoso, talvez, até eternizar um orgasmo.
Eu faria, assim, uma edição e teria uma fita só com os melhores momentos da minha vida. Mas uma fita só não bastaria. Teria de haver várias, porque eu sou um cara de poucas queixas.
O importante seria mesmo esse controle remoto, pois eu poderia recuar a fita e me emocionar outra vez com o nascimento de meus filhos. Depois eu a adiantaria e veria todos eles crescidos e eu preocupado. O que serão na vida? O que terão? O que farão?
Não! Então eu volto, volto, volto, volto, volto e me vejo outra vez em Maranguape, empinando pipa, jogando pião, escanchado num cavalo de pau naquela rua de terra batida onde eu era Tom Mix, Buck Jones, Palance, Cassidi... Eu nu tomando banho no açude, paquerando calcinhas e sutiãs pendurados nos varais, imaginado seus recheios.
Não! Com este controle remoto eu seria um super-herói: “Eu sou Ulisses, eu tenho poderes!” Mas eu só queria mesmo um poder. O poder de fazer a vida como acho que a vida deveria ser. Acho que o homem deveria nascer com oitenta anos. Iria ficando mais novo, mais novo, mais novo, mais novo, mais novo até morrer de infância.
Chego inclusive a imaginar uma mãe comunicando o nascimento do filho:
– "Menina, meu filho nasceu! Pensei que não fosse nascer mais, tava encruado! Nasceu com oitenta e quatro anos, mas perfeitinho com um metro e setenta e seis e setenta e dois quilos. Eu ia botar o nome de Luis Cláudio, mas ele próprio foi ao cartório e se registrou como Haroldo!"
E nos berçários, aquela fila de cadeiras de balanço com os velhinhos todos sentados, tossindo, pigarreando. Todos assistidos por geriatras, já que, padecendo eles todos os males comuns aos recém-nascidos: gota, artritismo, lumbago, reumatismo. O homem nasceria com oitenta anos, aos sessenta casaria com uma mulher de cinquenta e nove, mas com uma vantagem: a cada dia, a cada semana, a cada mês, ela ficaria mais e mais jovem, até se transformar numa gata de vinte.
Com oitenta anos nasceria rico, sábio e aposentado. A partir de então, passaria a ganhar menos, menos e entraria para a faculdade. Desaprenderia tudo, voltaria àquele estágio de ingenuidade, de burrice, de pureza.
Depois, a bicicleta, o velocípede, desaprenderia a andar, esqueceria como engatinhar. Então, o voador do voador para o chiqueirinho, do chiqueirinho para o berço, as trocas de fraldas, aquelas três gotas de remedinho no ouvido, o chá de erva-doce para dorzinha de barriga, a chuca e o peito da mãe. Pararia de chorar, mas a vida, então, teria que ser recriada, o mundo teria que regredir séculos. Cabral e Colombo descobririam o novo mundo, o homem desinventaria a roda, atingiria o desconhecimento da pólvora e do fogo, até chegar a Adão, o último homem. O último, primeiro, a quem Deus, colocando-o sobre a sua mão, em vez de lhe soprar a vida, o inspiraria novamente para dentro de si mesmo.
Chico Anysio
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