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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Certa vez, o tempo e o relógio se encontraram, embora estejam o tempo todo juntos. O tempo revoltado há muito tempo disse ao relógio tudo que vinha guardando para si. Que ele tinha saudades daqueles tempos em que não existiam relógios e todo mundo tinha tempo:

"Quando o homem ingrato fabricou o relógio que começou a marcar o tempo, ninguém mais conseguiu ter tempo. O homem ficou reduzido às horas, minutos e segundos.

Antes, naqueles bons tempos, todo homem tinha tempo de curtir a natureza. Viviam com o Sol de dia e dormiam com a Lua de noite. Quando a Lua caprichosa não queria aparecer, era um bando de Estrelas que piscavam brincalhonas, dando tempo para o Sol nascer. Mas agora, nestes tempos, ninguém mais tem tempo de ver se a Lua vem sorrindo para a direita ou para esquerda, se está de cara cheia ou mau humorada sem querer aparecer.

Antigamente, os homens nasciam no tempo certo em que tinham que nascer. Não havia recursos para os fora do tempo e nem cesariana para os que passavam do tempo. A natureza sábia, em tempo, quando era tempo. Hoje, o homem já obedece à você, mesmo antes de nascer. Os médicos estão apressados e sem tempo para perder. O relógio só ouvia e apressado prosseguia no seu tic tac sem tempo de retrucar.

Outros tempos, o homem crescia sem pressa, com tempo de amadurar. Comia sem ter horário e dormia quando tinha sono. Fazia amor ao relento, como flores que se beijam, como aves que se aninham. Envelhecia aos pouquinhos como um calmo entardecer.

Hoje, vai logo pra escola e traz pra casa um horário. Quando aprende a ler as horas, ganha do pai um relógio e, assim, ensinam-lhe bem cedo a maneira mais correta de nunca mais ter tempo na vida. Come apressado sem tempo, dorme ainda sem sono, pois de manhã bem cedinho começam a gritar arrancando-o da cama, quando ainda queria dormir.

Amor? Nem sei se ainda o faz, há gente que nem tem tempo e quando faz é zás-trás. Quando vê já envelheceu sem ver o tempo passar. Na hora do sono profundo, enterram-no apressados para a vida continuar. E, no outro despertar, é capaz de chegar tão apressado que não consegue me achar."

Ao relógio, sem poder nunca parar, só restava se calar. Além do sentimento de culpa que passou a carregar, a partir desse tempo, quando bate as doze badaladas no silêncio da meia noite, o canto é tão melancólico que até parece chorar.

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