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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Chegou o verão e com eles também chegam os pedágios, os congestionamentos na estrada, os bichos geográficos no pé e a empregada cobrando hora extra. Verão também é sinônimo de pouca roupa e muito chifre, pouca cintura e muita gordura, pouco trabalho e muita micose. Verão é picolé de Ki-suco no palito reciclado, é milho cozido na água da torneira, é côco verde aberto pra comer a gosminha branca. Verão é prisão de ventre de uma semana, pé inchado que não entra no tênis. Mas o principal, o ponto alto do verão é a praia. Como é bela a praia. Os cachorros fazem necessidades e as crianças pegam pra fazer coleção. Os casais jogam frescobol e acertam na cabeça das velhas. Os jovens de jet-ski atropelam os surfistas que, por sua vez, miram a prancha para abrir a cabeça dos banhistas. O verão é Brasil, é selva, é carnaval, é tribo de índio canibal. Todo mundo nu de pele vermelha. As mulheres de tanga, os homens de calção tão justo que dá até pra ver o veneno da flecha e todo mundo se comendo cru. O melhor programa de quem vai pra praia é chegar bem cedo, antes do sorveteiro, quando o sol ainda está fraco e as famílias estão chegando. Muito bonito ver aquelas pessoas carregando vinte cadeiras, três geladeiras de isopor, cinco guarda-sóis, raquete, frango, farofa, bola, balde, chapéu e prancha, acreditando que estão de férias. Em menos de cinquenta minutos todos já estão instalados, besuntados e prontos pra enterrar a avó na areia. E as crianças? Ah, que gracinha! Os bebês chorando de desidratação, as crianças se socando por uma conchinha do mar e os adolescentes ouvindo walkman enquanto dormem. As mulheres também tem muita diversão na praia, como buscar o filho afogado e caminhar vinte quilômetros para encontrar o outro pé do chinelo. Já os homens ficam com as tarefas mais chatas, como perfurar um poço para fincar o cabo do guarda-sol. É mais fácil achar petróleo do que conseguir fazer ficar de pé. Mas tudo isso não conta diante da alegria, da felicidade, da maravilha que é entrar no mar. Aquela água tão cristalina, que dá pra ver os cardumes de latinhas de cerveja no fundo. Aquela sensação de boiar na salmora como um pepino em conserva. Depois de um belo banho de mar, com o rego cheio de sal e a periquita cheia de areia, vem aquela vontade de fritar na chapa. A gente abre a esteira velha, com cheiro de velório de bode, bota o chapéu, os óculos escuros e puxa um ronco bacaninha. Isso é paz, é amor, é o absurdo do calor. Todo mundo volta pra casa tostado e vermelho como mortadela. Toma banho e deixa o sabonete cheio de areia para o próximo. As toalhas com aquele cheirinho de mofo que só a casa de praia oferece. Aí, uma bela macarronada para encher o bucho e uma dormidinha na rede para adquirir um bom torcicolo e ralar as costas queimada. O dia termina com uma boa rodada de tranca e uma briga em família. Todo mundo vai dormir bêbado e emburrado, babando na fronha e torcendo pra que a manhã seguinte faça aquele sol e todo mundo possa se encontrar no mesmo inferno tropical.

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